Bom dia, pessoal,
Domingo passado (não ontem, o anterior!), senti se aproximando sorrateiramente ela, nossa visita recorrente: a tristezinha dominical. A sensação de “putz, podia/devia/queria ter feito mais” aumentando com o passar das horas. Daquela vez, resolvi não ceder à melancolia. Bad de domingo? Tô fora! Pego minha bike e vou embora. Embora eu saia de bicicleta quase todos os dias, fazia muitos meses que eu não saía para pedalar, sem um ponto final definido, apenas pelo prazer de rodar por aí.
Cheguei em casa e mandei mensagem para alguns amigos, falando o quanto tinha me feito bem essa voltinha e que eu queria muito escrever sobre isso. Cá estou.
Caminhar, correr e pedalar são atividades que me deixam muito contentes. Há, claro, uma questão bioquímica por trás, endorfina, serotonina, dopamina etc. São atividades que eu priorizo fazer quando ainda é dia, então tem também a alegria causada por me expor à luz solar. Porém, tem um terceiro ponto que me deixa feliz quando eu faço essas coisas, ou quando saio de casa no geral: ver gente.
Nos últimos dias, na rua, vi pais pedalando seguidos de filhos na bicicleta de rodinhas (sempre de capacete, por favor!!), vi vários casais, de velhos e de jovens, caminhando de mãos dadas pela avenida, vi crianças jogando bola na quadra aqui perto de casa. Hoje um amigo do meu irmão acenou pra mim, ele e a irmã pedalando na ciclovia e eu correndo na calçada. Ecoa na minha cabeça o Erasmo Carlos cantando As pessoas que caminham / Seja lá pra onde for / É uma gente que é tão minha / Que eu vou, que eu vou.
Falei de ver gente, mas não é só isso. Gosto quando vejo as capivaras e seus filhotes capivarinhas de pertinho enquanto volto da faculdade. Gosto de parar sobre o rio e tentar encontrar os jacarés. Gosto de ver os passarinhos cansarem de voar e caminharem do meu lado na calça. Gosto de quando tá chegando setembro e as amoreiras começam a dar frutos. And I think to myself: What a wonderful world
Passo tempo demais na internet e sei que muitos dos problemas e discussões que leio, só existem lá. É só bloquear a tela que passa. Assim como várias das nossas preocupações só tem força porque passamos tempo demais sozinhos com as nossas próprias ideias.
Poucas semanas atrás, estava com os meus amigos no open house dos meus amigos Marcelo e Karol. Se olhássemos pro oeste e pra cima, víamos, majestoso, o Corcovado e o Redentor. Porém, passamos mais tempo entretidos olhando pra baixo. Havia funcionários da prefeitura soldando algo no chão (tipo um bueiro, mas gigante). Era hipnotizante. Entre desenvolvedores e marketeiros presentes no grupo, um consenso: aquilo era um trabalho de verdade. Algo palpável e que continuaria lá existindo, ainda que desligassem o computador, caísse a internet ou que cortassem o fio elétrico.
É claro que tem problemas (a maioria deles!) que continuam existindo mesmo se tentarmos olhar pra outro lado. Tem partes da cidade (às vezes até cidades inteiras) que não são caminháveis. Tem horários em que não é seguro sair de casa. Nem sempre as pessoas tem tempo pra parar no banco da praça e jogar conversa fora. Eu tento encaixar as coisas na minha rotina do jeito que dá e sonho com cidades em que todos tenham espaço. “A miudeza do cotidiano, em que a vida não para, é o que ainda me salva”, escreveu Luiz Antônio Simas em meu livro favorito.
Esses dias no twitter me deparei com esse trecho de um diário da escritora Susan Sontag que acho que resume perfeitamente o que eu queria dizer semana passada quando voltei do passeio.
Dessa vez, não trago indicações. Não leio direito há meses. De filme, acabei de ver O Poderoso Chefão com meu pai esse final de semana, mas todo mundo conhece e nem gostei tanto assim. Tenho que começar a salvar os links legais que vejo entre uma edição e outra.
Por hoje é só, pessoal!
Se cuidem!
Um abração,
Laura
Requentando
Tem duas cartinhas antigas que tangenciam o tema dessa, vou deixar aqui para quem quiser ler mais (até porque sabe-se lá quando teremos cartinha nova):
A primeira, de junho de 2021, é sobre risadas compartilhadas com desconhecidos, e a segunda, de junho de 2022, é sobre estar com gente mesmo quando (achamos que) não queremos. Talvez tenha algo no (suposto) frio de junho que me faça escrever sobre se estar junto