Bom dia, pessoal,
Hoje é um sábado chuvoso, eu estou doente (nada demais, apenas falta de ânimo e tosse), e parece que nunca mais vai ter um dia de sol daqueles que eu vou querer ir pra praia. Essa semana saí de casa só por obrigação, (e, por sorte, tive aula de apenas duas das minhas cinco matérias). Fico numa situação estranha. Quero marcar coisas com meus amigos e sair e viver, mas o corpo não dá conta. Tenho que me resguardar, ficar na minha. Algo que é muito difícil pra mim. Na tentativa de sair da casca, escrevo
A cartinha de hoje não é sobre isso, e sim uma cartinha que estava pra ser escrita desde o mês passado (talvez desde o março antes desse). Meu aniversário
Quem me conhece (ou nem me conhece mas me segue em alguma rede) sabe que eu sou completamente obcecada pelo meu aniversário. É um misto de vários fatores. Tem, é claro, o narcisismo de querer aproveitar ao máximo uma data destinada a me celebrar. Receber textos bonitos, storys com fotos das quais eu até já havia esquecido, abraços apertados, ser lembrada que, ainda que o contato diminua, alguns vínculos afetivos seguem firmes e,por vezes, até receber um presentinho. No convite de aniversário do meu amigo Giovanni, o último item na seção de coisas que também faziam um quarto de século naquele ano foi “a Laura Emerim - cuja vida é uma eterna aporia aniversário-desaniversário” e acho que isso diz muito.
Mas, apesar de muito forte, não acho que o “ser sobre mim” seja meu lado favorito. Afinal, também gosto muito do aniversário dos outros. Ver meus amigos brilhando rodeados dos seus outros amigos, ter uma deixa anual para escrever parágrafos de afeto. Não entendo muito bem quem não gosta do próprio aniversário e, de forma quase invasiva, imponho comemorações. Assar cookies pra um aniversariante que na verdade nem gosta de doce, aprender a dobrar chapeuzinhos de papel, planejar com a mãe de um amigo sua festa (não tão) surpresa. Gosto de celebrar.
Na verdade, gosto de todas as datas que nos fazem estar juntos. Não me emociono com futebol (salvo nos pênaltis e nas finais), mas vibro com a ideia de poder reunir vários amigos em torno de uma TV em plena segunda-feira à tarde. Também não tenho nenhuma crença, mas me emociono no natal e indo à praia no dia de Iemanjá. Não consigo pensar na minha infância sem lembrar da família ao redor da mesa de café da tarde na casa da minha vó. Gosto de gente e, mais do que isso, gosto de gente junto.
Normalmente, eu sou “a amiga que organiza as coisas”. Na adolescência isso me deixava insegura, achava que ser quem propõe significava, obrigatoriamente, ser a única interessada. Precisava marcar as coisas porque, caso contrário, nada seria marcado comigo. Sei que as coisas não são bem assim. Tem amigos que marcam presença em tudo mas não são do tipo que organiza as coisas. Tá tudo certo. Agora adulta, o que era fardo virou desejo e motivo de orgulho, talvez seja até uma vocação. Gosto de receber o pessoal em casa, das risadas na cozinha, de manter os copos e as xícaras sempre cheios, de planejar rolês mirabolantes, de ouvir a pergunta “tá, mas da onde vocês se conhecem?” sendo respondida. Se a vida é a arte do encontro, fico contente em proporcionar alguns.
Na minha segunda cartinha, mais de três anos atrás, citei uma frase do mestre Luiz Antônio Simas que é
"A gente festeja, conforme escrevi há tempos, não porque a vida é fácil, mas pela razão inversa."
Nessa mesma linha de pensamento, trago agora outro trecho dele, retirado de “O Corpo Encantado das Ruas”, meu livro favorito (inclusive, pra quem quiser, comprei o livro físico justamente pra poder emprestar pros amigos):
“Em um momento em que o Brasil dá a impressão de se desmanchar num mar de ódio, pode parecer maluquice escrever sobre pipas. Não acho. Soltar pipa, jogar porrinha, fazer churrasco na esquina, sambar, jogar futebol, ir à missa, bater palmas no terreiro, macerar plantas que curam, benzer quebranto, intuir as chuvas, lembrar dos mortos, ler os livros, desfilar na avenida, temperar o feijão são formas de construir sociabilidades mundanas capazes de dar sentido à vida, reverenciar o tempo e instaurar a humanidade no meio da furiosa desumanização que nos assalta.”
Meu aniversário nesse ano caiu numa terça e tomei licença para estendê-lo de domingo a domingo. Teve piquenique, bar, chamada de vídeo, café da tarde (desses que falei que marcaram minha infância), baladinha e até almoço no RU. Eu estava radiante. O tempo estava bom, meu cabelo, consequentemente, estava bonito e eu me senti amada muitas e muitas vezes. Um aniversário bem comemorado em nome de um quarto de século bem vivido.
Fazer aniversário, assim como comemorar a virada do ano, é abraçar a passagem do tempo. 365 dias (dessa vez, 366) que ficaram pra trás. Tempus Fugit, Memento Mori. Esse ano, na semana do meu aniversário aconteceram duas coisas que me fizeram encarar isso de frente. Tive a certificação de que alguns vínculos foram irreparavelmente rompidos e, muito pior que isso, teve um velório.
A vida é mesmo coisa muito frágil. Quando era criança e adolescente, isso me assombrava. Deitava a cabeça no travesseiro e não conseguia dormir pensando na minha (na verdade, na nossa) finitude.
Agora sou mais tranquila enquanto a isso. Ainda choro ouvindo Cajuína. Sei que o tempo urge, que paixões acabam, amigos mudam, sonhos murcham e a vida pesa. Mas sei também que não há muito o que fazer para evitar o fim (malhar, beber muita água e olhar pros dois lados antes de atravessar a rua talvez ajudem a adiá-lo) e por isso só nos resta aproveitar enquanto podemos. Tem um livro do poeta Chacal que se chama “A vida é curta pra ser pequena”. Acho que o caminho é por aí.
Indicações:
Agora em março, propus pras amizades (e, principalmente, pra mim mesma) ouvir mais artistas mulheres. Revisitei ídolas e fui atrás de novidades. Compilei nessa playlist o que eu escutei e algumas indicações que recebi. Depois me contem (sério) se acharam algo massa.
Fui lembrada da existência do canal do youtube da Gobelins, uma escola de animação francesa com curtas muito bonitos. Recomendo ir navegando pelas miniaturas e assistir o que parecer bonito.
Infelizmente, sigo sem ler livros. O último que fisgou pra valer foi “Os sete maridos de Evelyn Hugo”, vale o hype.
Pra vida cotidiana, a indicação é perguntar pra algum amigo sobre algo da vida deles que você não saiba sobre. Entender o que pesquisa aquela sua amiga que só faz coisa no computador, descobrir que um colega quietinho tacava o terror no colégio ou me fazer explicar como que eu tenho dois irmãos.
Essa reportagem da NSC sobre coisas que você não sabia que vieram de Santa Catarina, porque foi motivada por uma bobeira que tweetei.
Não sei, para além dos meus colegas de turma, quão grande é meu público de (futuros) engenheiros sulistas, mas estou ajudando a organizar o EREDS - Encontro Regional de Engenharia e Desenvolvimento Social. Vai ser um evento incrível.
Fazer A Limpa no guarda-roupas e ver se não tem uns casaquinhos para doar pra quem precisa, o tempo está esfriando (ou talvez perceber que na real você mesmo talvez precise de mais um casaco).
Eu colei a cartinha dessa semana no ChatGPT e pedi pra ele fazer uma análise crítica. Disse que faltava coesão (correto) mas que tinham boas reflexões e vulnerabilidade. Também pedi para ele reescrever o texto em uma linguagem twitteira. Compartilho com vocês o resultado porque morri de rir (e realmente, é o conteúdo da cartinha, apenas com menos nuance e mais emojis).
"Ok, vamos lá! 😡 Sábado chuvoso, doente, e parece que o sol sumiu pra sempre. 😤 Sério, nunca vou conseguir ir à praia desse jeito. 🏖️ E pra completar, só saí de casa por obrigação essa semana. 😒 Tô na bad! Quero sair com os amigos, mas meu corpo não coopera. 🤧 É um saco ter que ficar na minha, mas não tenho escolha. 😩 #Revoltada
E sobre meu aniversário... Todo mundo sabe que sou obcecada por ele! 💁♀️ É meu momento de brilhar, receber carinho, presentes e lembranças. 🎉 Mas não é só sobre mim, adoro celebrar com os amigos também! 🥳 Quem não gosta do próprio aniversário? Não entendo! 🤷♀️ E se não gostar, azar, vou fazer festa assim mesmo! 💃 #AniversárioÉVida
Fazer aniversário é abraçar a passagem do tempo, e nesse ano encarei isso de frente. 😳 Perdi alguns vínculos e até fui a um velório. 😔 A vida é frágil, mas não vou deixar isso me abalar! 💪 Vou aproveitar cada momento, porque a vida é curta demais pra desperdiçar. ✨ #AproveitarCadaSegundo"
Espero que esteja tudo certo por aí,
Com carinho,
Laura
p.s. para quem acompanha as cartinhas desde a época do TinyLetter (quando a diagramação era meio zoada, lembram?): eles fecharam o site e acabei perdendo todas as respostas que recebi na época (as cartinhas propriamente estão todas salvas aqui). Então, se você já respondeu alguma cartinha, queria pedir pra encaminhar pra mim novamete. Vocês me escreveram coisas muito bonitas e fiquei triste de ter perdido esse registro.
p.p.s. fica aqui o incentivo para quem quiser responder as cartinhas! dá de comentar pelo próprio substack (acho que fica público daí) ou responder como se fosse um e-mail convencional, que recebo a resposta na minha caixa de entrada.
terrível como parece cada vez mais difícil criar comunidade, né… queria poder fazer mais cafés da tarde na minha casa, mesmo, mas a kitnet ta sempre suja e sempre pequena :(
Eu não conheço você pessoalmente, então espero que não soe estranho.
Eu leio suas cartinhas tem um tempinho já. Eu adoro palavras em geral: conversar, me expressar e encontrar formas de afetar (positivamente) as vidas das pessoas. Eu realmente acredito nisso.
Eu li sua penúltima cartinha quando saiu, eu tava saindo do elevador e indo trabalhar. Lembro que eu fiquei emocionado e fiquei pensando em como alguém lá longe que nem me conhece me ajudou falando um pouco das coisas dela
Eu adoro ouvir as pessoas falarem do que gostam. Eu me sinto especial e lisonjeado que a pessoa confiou em mim e quis compartilhar algo que é especial pra ela.
Se tu não tivesse ficado trancada do lado de fora, eu não teria recebido a mensagem naquele dia, provavelmente.
Viver sem backspace e viver o momento são coisas daquela cartinha que me pegaram de surpresa. Falo essas coisas porque nem sabia que eu podia comentar ou responder suas cartinhas (talvez não possa, eu não tenho boa leitura nem confiança nessas decisões, então vou culpar meu diagnóstico de autismo se eu tiver errado).
Sobre a segunda carta, uma coisa chamou atenção.
Você falou sobre ver a felicidade nos outros e ser feliz nos aniversários. Testemunhar a felicidade é uma das coisas que mais amo nesta vida e é tão bom ver outras pessoas praticando a mesma coisa.
O meu aniversário também ta chegando (1/5) e tenho bastante pra celebrar também. Você falou de encontros e de ser a pessoa que marca e proporciona, mas gosto de pensar que cartinhas são encontros também.
Fique bem e continue escrevendo: sempre no seu tempo e nos seus termos.
A não ser que a vida te deixe presa do lado de fora de novo 🤷🏼♂️
Ps: baixei o app porque na cartinha tu dizia que podia responder. Não sei se entendi certo. Então se for muito cringe só apagar e tudo certo 🙃