vou errando enquanto o tempo me deixar
Bom dia, pessoal,
Quando eu morava em Floripa (ainda não me acostumei a conjugar nesse tempo verbal), jogava basquete uma vez por semana com meus amigos. A cada vez pensava "nossa, preciso escrever sobre isso".
Tem a questão da importância de se ter uma atividade de lazer meio fixa na semana. Saber que, não importava o quão cheia tivesse a agenda, teria uma ou duas horinhas reservadas pra ver gente e suar correndo pela quadra. Isso realmente me ajudava muito a manter a cabeça no lugar independente do caos ao redor.
Outro ponto que me fazia pensar em escrever sobre é a questão de ser uma mulher em uma atividade majoritariamente masculina. Normalmente era eu e mais cinco ou seis caras no mínimo vinte centímetros mais altos. Antigamente isso me faria sentir “Uau, eu sou mais legal que as outras garotas”, mas depois da adolescência a gente entende que isso não faz sentido algum. Fico muito feliz quando alguma das minhas amigas vem jogar também, sinto que a dinâmica muda um pouco, ainda que nunca tenha sentido nada negativo sendo a única em quadra.
Mas o que sempre chama minha atenção e me faz pensar "isso tem que ser mencionado numa cartinha" é a capacidade que os jogadores, pelo menos da minha quadra, têm de reconhecer seus erros e pedir desculpas. Como uma pessoa que joga mal, e sabe que joga mal, eu sempre presumo que os erros são meus. Se não peguei a bola, penso que é porque fui descoordenada, não fui rápida o suficiente ou simplesmente tive medo. Agora falo realmente do jogo, mas isso se aplica a outras áreas da minha vida. Sempre acho que os conflitos são iniciados por um defeito meu e que as relações se desfazem porque não me empenhei o suficiente. É até um pouco egocêntrico achar que eu seja a responsável por tudo.
Jogando basquete com eles, vi várias jogadas que deram errado sem ser por minha culpa. O passe que eu só conseguiria ter recebido se corresse o triplo do que eu corro ou se o hormônio de crescimento tivesse me dado uns vinte centímetros a mais. Quando isso acontece, eles falam "putz, foi mal" ou "nossa, errei", e seguimos o jogo. Não só reconhecendo o erro, para que o outro não ache que a culpa foi sua, mas também não fazendo disso uma questão maior do que precisa ser. Reconhecer, seguir adiante e depois errar diferente.
Nas atividades físicas eu acho sempre que as falhas são minhas, mas nas interações sociais, a coisa muda de figura. Se alguma mensagem não foi bem compreendida, parto do pressuposto que a outra pessoa que não leu direito (até que releio o que escrevi e percebo que comi uma ou duas palavras importantes). Nas minhas relações mais próximas, seja com minha mãe, com meus amigos mais próximos ou nas relações amorosas eu cobro demais dos outros. Por gostar e admirar tanto, ponho as pessoas num patamar tão elevado que qualquer falha ou quebra de expectativa me deixa incomodada. Não dá de esperar uma cesta de três pontos se fiz um passe todo torto.
Falei que reconhecemos os erros e que isso é importante, mas tão importante quanto isso (e, me perdoem, talvez aqui eu soe um pouco coach) é reconhecer quando as coisas dão certo ou quase. Na quadra incentivamos uns aos outros e comemoramos quando alguém tenta uma jogada maneira, mesmo que a bola não entre na cesta. Ambientes e relações que são gentis com os erros nos deixam mais confortáveis a tentar acertar!
Essa semana (que na verdade acabou sendo um trimestre inteiro) não vai ter seção de indicações!
Se cuidem e até mais,
Beijão,
Laura
p.s. lembrei que já teve essa cartinha aqui sobre pedir desculpas também.
Acho que fica muito mais difícil crescer quando não se é honesto consigo e com as outras pessoas. O problema é que isso também pressupõe confiança — em si e nas outras pessoas. Eu imagino que no esporte isso seja imprescindível!