Bom dia, pessoal,
Começo a escrever essa cartinha na poltrona do ônibus. Ele tá cheio (sempre está!), mas dessa vez consegui lugar.
Na penúltima cartinha, chegamos aos 300 inscritos. E, por aqui, criei a tradição de fazer uma cartinha de apresentação a cada cem. (pra quem quiser me conhecer mais, aqui está a primeira e a segunda). Um misto de apresentação básica para quem chegou depois e informações aleatórias que vierem na minha cabeça ao longo do caminho. Vou aproveitar e tentar dar algumas atualizações da vida aqui.
Tenho vinte e cinco anos e isso choca meus colegas de turma quando descobrem. Explico, rindo, que é porque eu bebo muita água (o que é verdade) e faço skincare (às vezes). Eles nasceram em 2003! Comecei Engenharia Química na UFSC em 2020 e agora tô fazendo intercâmbio em Toulouse, na França (mais perto de Barcelona do que de Paris, é o que dizia pra tentar indicar sua posição num mapa mental).
Dos hobbys, o que eu consegui manter aqui foi a corrida. Três vezes por semana, normalmente ao longo de um canal aqui perto. Só não dá pra correr depois das 18h, que a iluminação é nula. Basquete eu só joguei duas vezes aqui e fiquei “nossa, realmente eu amo isso”, mas acabei não conseguindo jogar mais. O forró ficou em terras brasileiras, não porque não exista aqui (mês passado rolou até festival na minha cidade!), mas porque não deu tempo mesmo. A leitura, que tá constantemente na lista de atividades para retomar, teve seu revival quando peguei os livros do Édouard Louis na biblioteca da faculdade (que a gente chama de école, pronunciando igual a bactéria). Fiquei completamente obcecada mas o terceiro livro ainda não engrenou. Minhas aquarelas vieram comigo, mas os pinceis que comprei logo que cheguei ainda não foram usados. Na educação física eu faço aula de rugby, que tô adorando, apesar de ser meio contra-intuitivo: você pode, e deve, correr com a bola e tem que jogar ela para trás!.
Sou vegetariana e dentro de casa evito comprar derivados de animais (com exceção do pote de mel que comprei em uma das muitas vezes que fiquei doente por aqui). Vem sendo tranquilo mas o leite de soja daqui nunca chegará aos pés do meu querido Ades. Quando não como no RU, costumo fazer lentilha ou proteína de soja. Às vezes compro feijão enlatado e refogo, mas nunca fica bom (minha amiga Jéka falou que o segredo era deixar ele cozinhando por muito tempo pra pegar o gosto, mas não tenho paciência). Compro legumes e frutas na feira de domingo, mas às vezes o tempo tá feio e eu não vou. No Brasil eu já tinha deficiência em ferro, mesmo comendo feijão duas vezes por dia todos os dias, agora então não quero nem ver como está (mãe, se tiver lendo isso, eu prometo que eu volto a suplementar antes de você chegar).
Uma coisa meio óbvia que percebi aqui, é que eu realmente eu sou eu em qualquer lugar do mundo. Tinha medo de perder meu jeitinho devido às limitações linguísticas. Mas continuo tagarela e querendo conhecer gente em qualquer lugar que eu vá. Cheguei na França numa quarta-feira, na quinta conheci dois mexicanos em um museu e, na sexta, já estava viajando com eles para uma cidade próxima. Puxo papo com os feirantes enquanto tomo meu café. Gosto de cumprimentar as pessoas no corredor com idiomas diferentes, mas é reconfortante ouvir um “Oi Laura, tudo bem?” saindo do metrô. Esses dias, recebi do professor de inglês o feedback “Speaks quite quickly [...]. She can be difficult to follow due to the speed of her responses”. Também em inglês já me confessaram que não sabiam se eu estava flertando ou apenas era muito simpática. Tudo igualzinho ao Brasil.
Dos meus últimos rolês de despedida, em agosto, eu levei um caderninho para os amigos escreverem recados. Numa noite que estava meio triste, li todos de uma vez. Chorei muito muito. Eu realmente amo muito meus amigos e tar juntinho deles, mas também valorizo muito os textinhos carinhosos.
A cartinha de hoje não tem reflexões nem muitos sentimentos. Só lembrar pra mim mesma que eu sei escrever em português coisas além de mensagens no whatsapp e dar um oi para vocês.
Indicações da semana:
Como mencionei já, estou completamente obcecada pelo escritor francês Édouard Louis. Em português, os dois livros que li se chamam “Lutas e metamorfoses de uma mulher” e “Quem matou meu pai”
Essa semana ouvi esse álbum da Rachel Reis, bem animadinho e fogoso. Também relembrei esse do Otto, que é uma pedrada (como falaram no twitter, tem coisas que realmente só se separar da Alessandra Negrini faz com a cabeça de um homem).
A última vez que vi filme, foi Dr. Strangelove, do Kubrick. Gostei bastante.
Sair para bater perna sem rumo. Sozinhos ou acompanhados. É muito bom só desocupar a cabeça e ir vendo o que surge no caminho.
Um abraço e se cuidem,
Laura
P.S. me contem como vocês estão também!
Um bom 2025 Sra. Emerim!
oie laura, que coisa boa receber sua cartinha, os últimos três livros que li são do edouard louis e estou obcecado também, obrigado pela recomendação!