tem dias que a vida é um ato de coragem
Bom dia, pessoal,
Desde que minhas aulas voltaram a ser presenciais (abril desse ano) eu digo “algum dia vou tentar ir de bike”. Mas nunca vou, ou melhor, spoiler, nunca ia.
Terça-feira pensei “amanhã é o dia”. Quarta acordei com a certeza que aquele seria o dia. Tomando café da manhã, comento sobre com meu pai (que sempre me incentivou a isso!) e ele diz “ah, só tem que ver onde está o cadeado do Artur”. Fiquei nervosa, fiquei frustrada. Achei que já estava tudo no esquema mas faltava aquela peça importante, que não sabia se conseguiríamos encontrar. Antes de terminar o café, pedi pro meu irmão procurar a peça. Passei no seu quarto minutos depois e ele não havia tido sucesso. Entrei em pânico. Abri uma de suas gavetas e lá estava o cabo verde. Reclamei braba que ele não tinha se esforçado pra procurar antes. Respirei um segundo e me desculpei porque percebi que tinha me exaltado por estar nervosa e ele não tinha culpa de nada. Pedi para ele descer comigo pra garagem. Antes de sairmos, perguntei pra ele se achava que eu devia sair mesmo naquele tempo (estava nublado, com cara de que ia chover (e choveu)). Ele disse que sim, então eu fui.
Primeiro testei a bike do meu pai, aro 29, abaixei o banco o máximo que pode mas não foi o suficiente, não dava pé. Fui então para a do Artur, aro 20. Era pequena e o selim estava torto para a direita, mas o fato de que qualquer coisa era só eu colocar meu pé no chão me tranquilizava demais. Seria aquela. Pedi para ele descer com ela pra mim, pois nossa garagem fica no segundo piso e estava com medo da velocidade que alcançaria descendo as rampas (minha amiga Laura posteriormente apontou que era só eu ter descido carregando a bike, mas na hora essa ideia não me ocorreu).
Parados na frente do portão, ele passou o guidom para mim. Coloquei o capacete preto, e fui. A última vez que eu andei de bike foi esse ano, mas na garupa. Acho que a última vez que pedalei foi final de 2019, na ciclovia da Osni Ortiga, contornando a Lagoa da Conceição ou com a minha vó Lúcia ou com minha amiga Maria. Morro de medo. Não de medo dos carros (um medo completamente racional), porque só faço percursos seguros, mas medo de mim mesma. De não saber controlar meu guidom e acabar batendo num poste ou num pedestre, do cadarço enroscar na corrente, de cair no chão e não só me espatifar como acabar parando na frente de um carro.
Demorei meia hora num trajeto que, de acordo com o maps, levaria uns 16 minutos (na caminhada, sempre sou mais rápida que a previsão). Subi na calçada e pedi desculpas para pedestres, freiei e desci da bike por medo de atravessar desníveis (mesmo sabendo que desacelerando os riscos são maiores), girei o trocador de marchas para a frente e para trás sem a menor ideia do que estava fazendo. Me diverti muito. Não tanto pelo momento em si mas por saber que eu finalmente tinha tido coragem pra fazer algo que queria há tempos.
Numa cartinha de março do ano passado, eu falo disso mas usando a corrida e a cozinha como pano de fundo. Acho que isso é algo recorrente, né? Não só para mim como para qualquer pessoa. É como o Arnaldo Antunes canta “todo mundo teve medo, mesmo que seja segredo”. O negócio então é saber enfrentá-lo. Encarar o mundo de frente.
É meio clichê, mas pensa em quantas coisas você quer fazer mas não faz só porque tem medo ou porque sempre pensa “ah, outra hora eu faço”. Aqui, pelo menos, é muita coisa. Lembrei de uma música do Marcos Valle em que ele canta “Eu meço a vida nas coisas que eu faço, e nas coisas que eu sonho e não faço”, até pensei em usar de título mas ficaria muito longo. Lembrei na sequência de outra música dele, mas mais conhecida na voz do Erasmo Carlos, que ele fala “Sei que muita coisa que eu fiz eu não quis, sei de muita coisa que eu quis que eu não fiz”. Se eu fizesse músicas, minhas letras seriam exatamente assim também.
Fica de dever de casa escolher alguma das coisas que vocês pensaram sobre no parágrafo anterior pra (tentar) fazer. {aviso legal: enfrentar coisas que, objetivamente falando, sejam inofensivas. não vão se colocar em risco e sair botando na conta da Cartinha)} . Ir de bicicleta pra faculdade já foi riscado na lista, então vou ter que escolher um novo desafio. Pensando assim por cima, acho que a maioria das coisas da minha “Lista de tarefas para quando tiver coragem” envolvem falar pra pessoas sobre coisas que eu sinto (seja para reforjar laços, seja para construir barreiras) ou contar coisas sobre mim, sem coisas radicais como escalar montanhas ou coisa do tipo.
A cartinha dessa semana vai ser concisa porque quero enviá-la ainda hoje mas também quero ir dormir cedo, em outro momento retomo algumas pontas soltas. Quem sabe vocês não aproveitam esses minutinhos poupados de leitura para mandar uma mensagem ou um e-mail que estão enrolando há tempos.
Indicações da semana:
Voltando a ter a Playlist da semana, essa que fiz em colaboração com meu amigo Arthur só com músicas que falam sobre bicicleta. Tem também uma página da wikipedia (em inglês) listando músicas sobre o tema
A newsletter da minha amiga Gabi que é maravilhosa demais. Por enquanto tem quatro textos publicados, num mix de ficção e reflexões. Recomendo devorar todos.
Ouvindo uma playlist da minha amiga Taisi, fui parar nesse disco da banda Casuarina (que eu só conhecia até então como “a banda do filho do Lenine”). Tem um astral muito bom. Minha música favorita é a primeira.
Eventualmente haverá uma cartinha falando sobre política, eleições etc. Mas, pra quem tiver interesse em saber, minha candidata a deputada federal é essa aqui (voto em Santa Catarina)
Dia primeiro escrevi um textinho de aniversário para meu vô que faleceu ano passado. Ia mandar só pros familiares mas minha mãe disse pra eu postar então eu postei. Tá no meu instagram e também aqui, pra quem quiser chorar um pouquinho.
Um beijão e bom resto de semana!
Se cuidem!
Com carinho,
Laura
P.S. aqui tá a cartinha que eu mencionei. Vamos testar como funciona esse jeito de botar os links.