Bom dia, pessoal,
Essa cartinha começou a ser escrita no final de 2023. Mudei uma coisinha ou outra e segui escrevendo mais, mas optei por não mudar os marcadores temporais, pra mostrar que realmente era pra ter enviado faz tempo e também porque teria que reformular demais.
Aproveitando que tô trancada do lado de fora de casa (fui moleca, esqueci a chave) para rascunhar uma cartinha no bloco de notas. Pra, depois do sumiço, passar pelo menos para desejar boas festas para todos nós.
Tem várias razões pra eu estar escrevendo quase nada (sim, essa vai ser uma de tantas cartinhas que falam sobre não conseguir escrever).
Começando do mais básico, o problema que assola todo mundo: falta de tempo. Ou, quando há tempo, falta de energia ou força de vontade para (escavar espaço na escrivaninha para depois) sentar e escrever.
Mas, para além disso, tiveram duas questões. A primeira delas é a incapacidade de escolher um tema apenas. Tem muita coisa que eu penso em escrever sobre, sejam acontecimentos concretos ou sentimentos e reflexões. Mas penso "pô, mas x coisa acho que é mais relevante de se escrever" ou "ninguém vai querer ler sobre y”.
Esses dias tava falando com meu amigo Arthur sobre não postar nada no feed do Instagram (em oposição a ser 100% blogueirinha nos stories). E o motivo é exatamente o mesmo. Ainda que tenham muitas fotos boas, nunca acho que alguma seja boa o bastante. Nesse ano teve apenas post do ano-novo (organizado com muito carinho pela minha xará e por mim) e post de aniversário do meu irmão (no qual as fotos nada mais são do que um pretexto para poder contar na legenda o quanto eu amo aquela criatura).
O segundo ponto é: passei a articular os pensamentos mais pela fala do que pela escrita. Em vez de recorrer às teclas para dar forma e sentido para o que se passa na cabeça e no coração ou para comunicar aos outros questões importantes pra mim, falei. Não é que eu fosse quieta antes (nunca fui e suspeito que nunca serei), mas falava das coisas mais triviais, deixando pro registro escrito (pensado, editado e revisado diversas vezes) meus pedidos de desculpa, minhas demonstrações de afeto e minhas queixas.
Agora, em vez de deixar os problemas presos na minha cabeça, de um lado pro outro como numa mesa de pinball, vou falar com meus amigos. Sair para caminhar, mandar áudios intermináveis (eu faço minha parte já falando eles em velocidade 2, mas não é suficiente), contar histórias enquanto passam um café ou servem mais uma taça de vinho, telefonar, chamar para conversar sobre coisas que já foram ditas. Deixar as palavras rodearem minhas interações, se soltarem da garganta e tomarem corpo no ar. Sem backspace ou textos compartilhados só depois de eras.
Além disso, com cada vez mais inscritos (muito obrigada por isso!), principalmente os inscritos que conheço da vida normal, escolho deixar de contar coisas. Não subestimo minhas angústias privilegiadas nem o transtorno que é lidar com as borboletas do estômago regredindo a larvas, mas não são coisas que quero esmiuçar com todo mundo, não agora. Não quero ir muito fundo mas também não quero me ater só às coisas casuais, contar o que fiz na semana etc. Fico me questionando se tenho realmente coisas tão interessantes assim pra dizer.
Nos últimos dias (estamos de volta em fevereiro de 2024) venho me sentindo evasiva. Não quero ficar um segundo a sós com meus pensamentos. Comfortably numb. Escuto mais música, acesso uma rede social por segundo, durmo bastante, vou pra academia e, como de praxe, quero passar cada minuto perto dos meus amigos. Objetivamente está tudo ótimo, então sigo correndo sem procurar muito o que pode estar faltando. Olho o calendário e presumo que a angústia vá embora junto com o sangue daqui a uns dias. Enquanto isso, lembro que posso voltar atrás. Nem toda palavra precisa ser dita em voz alta. Posso, como no teorema do macaco infinito, só ir batendo as teclas até que, eventualmente, as coisas façam um pouco de sentido.
Indicações do (começo do) ano:
Fimes: Nimona (animação concorrendo ao oscar, na netflix), Les Demoiselles de Rochefort (musical francês dos anos 60) e Café com Canela (filme nacional e também meu jeito favorito de tomar café)
Música: estou completamente obcecada por esse álbum da banda Black Country, New Road. O último show que fui em 2023 foi o do Di Melo, o que me fez voltar a ouvir bastante esse álbum aqui. Estou ouvindo muito Caroline Polachek, que até desbancou a loirinha no ranking de artistas mais ouvidos. Ela lançou uma versão expandida do seu último álbum. Na última hora, meio ao acaso, comecei a ouvir o primeiro álbum solo do Syd Barrett (ex Pink Floyd) e estou achando lindo.
Livros: nessas últimas semanas, não está tendo.
Atividade: resolver palavras cruzadas. De preferência a nível Desafio, com amigos.
Espero que esses sete meses que passamos sem nos encontrar na caixa de emails tenham sido bons, principamente esse começo de ano. Espero aparecer mais vezes.
Se cuidem e um abraço,
Laura
compartilho do sentimento de angústias privilegiadas e sobre pensar se tenho algo assim tão interessante a dizer.
Mas amiga, sempre muito bom te ler! Você faria até um manual de instruções ser interessante <3
Oi, Laura! Sempre bom te ler!
Ressoou fundo aqui "as borboletas no estômago que regridem às larvas". Espero que tu continues faladeira e cercada de amigos. Um bom ano pra ti :)