quem deixa ir tem pra sempre
Bom dia pessoal,
Muito se fala sobre a importância de seguir seus sonhos e ter perseverança, seja no mundo da auto-ajuda barata, seja quando incentivamos amigos. Isso sem dúvidas é necessário, porém não podemos ignorar o fato de que, às vezes, o melhor a se fazer é mesmo desistir.
Eu não aceito bem que não vou conseguir fazer tudo que quero. Pelo menos uma vez por mês lembro de todos os cursos que já cogitei fazer. Meu sonho era aquele quadro cheio de chapéus de formatura (chamam-se capelo, pesquisei agora) igual o da família Cullen do Crepúsculo.
Até nos momentos de lazer esse anseio se mostra. No The Sims sempre desligava o modo de envelhecimento automático, deixando os sims imortais para ter tempo deles chegarem no topo de umas três profissões e de todas as habilidades (não consigo me divertir tirando as escadas da piscina, uma vez minha sim morreu de fome e fiquei semanas traumatizada sem jogar).
Estou na metade do terceiro volume do Guia do Mochileiro das Galáxias desde 2015 (curiosidade que achei engraçada, em Portugal a série se chama "À Boleia Pela Galáxia"), mas, sob hipótese alguma assumirei que abandonei o livro. Eu ainda tô lendo ele. Um dia termino. Deixar de lado, sempre. Mas deixar pra trás, jamais.
Não acho que isso seja de todo o mal. Tem vezes que a gente quer muito fazer algo e só não tem como no momento mesmo. Nessas horas é importante entender que é só uma pausa e que podemos voltar depois. Mas muitas vezes a gente nem precisa nem quer tanto assim fazer a coisa, mas acha que, por ter tido essa ideia um dia, tem que levar ela a cabo.
No domingo, dia 20, eu não escrevi a cartinha. No fim do dia, já cansada, pensei “tá, amanhã eu escrevo”. Na segunda, dia 21, eu não escrevi a cartinha. No fim do dia, já cansada, pensei “tá, amanhã eu escrevo”. Na terça, dia 22, eu não escrevi a cartinha. No fim do dia, já cansada, pensei “tá, amanhã eu escrevo”. Na quarta, dia 23, eu pensei “TÁ BOM, LAURA, parou a palhaçada, aceita que a cartinha dessa semana não vai sair” e só então sosseguei. Uma pendência a menos e uma ideia de tema a mais.
Existe um negócio chamado falácia do custo irrecuperável (ou “Efeito Concorde”, por causa do avião que foi um fracasso), que consiste em levar em conta os recursos gastos como base para manter a decisão, em vez de focar nas perspectivas de futuro. Tipo quando eu fiquei meia-hora na fila do mercado pra comprar apenas cinco latinhas e uma garrafa de mate. Lá pela metade, com os caixas ainda distantes, eu cogitei abandonar minha cestinha. Mas pensei “Ah, mas já gastei quinze minutos aqui, não vale a pena sair…”. É basicamente ouvir Engenheiros do Hawaii no rádio dos meus pais, cantar o trecho que diz “Não vim até aqui pra desistir agora" mas ficar quieta quando vem o “Entendo você, se você quiser ir embora”.
No post que eu li sobre isso (lembrava da explicação da falácia mas penei pra lembrar do nome), o moço fala um pouco sobre o porquê de não querermos desistir. Não sei qual é o embasamento nem nada assim, mas acho que fez sentido a explicação que ele deu:
“Por que temos esse comportamento irracional? Simples, as pessoas se esforçam para parecer consistentes. Com consistência sinalizamos credibilidade. Para nós, as contradições são socialmente péssimas. É quase um crime mudar de ideia ou posicionamento. Quando decidimos interromper um projeto na metade, geramos uma contradição: reconhecemos que antes pensávamos de maneira diferente da que pensamos hoje. Levar um projeto absurdo adiante protela esse doloroso reconhecimento.”
Esses dias um amigo tweetou uma citação em que o grande Craque Daniel diz o seguinte:
"Tanto num sentido geral quanto no exercício constante da desistência semeando um prazer saudável no dia a dia, desistir é uma conquista, um desafio reverso."
Na hora pensei "é isto, vou colocar na cartinha" e só. Mas ontem, fui atrás da frase para copiar certinho. Cliquei na lupinha, digitei "desistência" e apertei para pesquisar. Antes de colocar o filtro "apenas pessoas que você segue", antes mesmo do primeiro tweet de um desconhecido, o tweet me surpreendeu com uma mensagem: "Incluindo resultados para 'resistencia' ". Nem mais o passarinho azul nos permite pendurar as chuteiras.
Eu poderia deixar essa cartinha mais motivacional, dizendo que a gente precisa desistir de algumas coisas para que outras possam florescer. Mas, apesar disso ser verdade, às vezes a gente só precisa desistir porque continuar determinada coisa não faz sentido. Não é sobre substituição, é sobre ter espaço.
Essa semana não tem arte reflexiva de algum instagram,
apenas um Arcanine lembrando vocês de beberem água
(primeira vez que mando gif, vamos torcer pra que funcione)
Indicações da Semana:
Duas indicações especiais para os amigos twitteiros: essa lista de coisas pra você silenciar que fazem com que os tweets apareçam pra você com menos influência do algoritmo do engajamento. Não achei que funcionasse até que testei e deu bom. E também a extensão Calm Twitter que baixei agora de manhã e já estou amando.
Esse texto sobre neutralidade da rede e zero-rating que minha amiga Clara escreveu em setembro e reli esses dias para mencionar em um trabalho da faculdade. Aprendi vários conceitos importantes que explica de forma clara (trocadilho não intencional) e objetiva.
Esse site que avalia sua habilidade de desenhar um círculo. Meu amigo Luke, que compartilhou o site, conseguiu 96,5%. Eu cheguei em 94,6%, mas pretendo me dedicar mais depois de enviar essa cartinha.
Achei ontem, graças ao meu amigo Pedro, essa conta do twitter com playlists estranhas do spotify. Como entusiasta das playlists feitas não para serem ouvidas depois, mas para listar músicas com temas em comum, eu amei muito.
Esse post no insta intitulado "A moda gen Z enaltece a cultura da magreza?". Quando apareceu pra mim no feed o primeiro pensamento foi "ah sim a culpa é da geração z, a moda das outras gerações não fazia isso...", que é literalmente o que elas falavam na imagem seguinte do post.
Música nova do Rubel (com arranjo do brabíssimo Arthur Verocai), música nova do Jorge Drexler (achei a letra muito bonita) e música nova com a Taylor Swift. (todos links do youtube dessa vez)
O filme "A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas", distribuído pela Netflix. É bem humorado ao mesmo tempo que trás umas críticas boas e também uns momentos fofos. Se você viu Homem-Aranha no Aranhaverso, vai gostar. (Se não viu, por favor veja também).
O "álbum A Banda Tropicalista do Duprat " do Rogério Duprat. Eu conhecia uma música só e gostava muito, mas fui parar para ouvir as outras músicas esse mês só. O cara é foda.
A playlist "Calm Down" do Spotify que achei aleatoriamente agora enquanto caçava a playlist da semana e, por começar com uma das minhas músicas favoritas, decidi que valia a indicação antes mesmo de ouvir o resto.
Esse alongamento curtinho da minha musa Carol Borba. É bem tranquilo de fazer os movimentos, recomendo demais. Mas na verdade tô indicando mais para me lembrar de voltar a alongar.
Esse baralho de gatinhos que achei a coisa mais fofa do mundo.
Se cuidem e boa semana!
Com carinho,
Laura