pelas pequenas alegrias da vida adulta
Bom dia, pessoal!
Hoje para escrever essa cartinha estou recorrendo a um método que há muito eu não utilizava: usar esse site aqui que ameaça apagar todo o seu texto se você ficar muito tempo sem digitar, de forma a obrigar as palavras a fluírem, sem ficar pensando demais.
Escrever tudo que se pensa e depois ir arrumando, em vez de ir arrumando enquanto escrevo e parar para pensar o tempo todo. Como disse o Hemingway, write drunk, edit sober.
Novamente entrei no modo "não tenho tempo para escrever". Não que não tenha. Mas não paro mais em algum momento da semana e penso "ah, vou parar um pouco aqui com meus pensamentos e ver o que que surge". Só faço isso agora durante as sessões de terapia, e olhe lá.
Eu falei nessa cartinha já sobre não conseguir parar, de estar sempre preocupada com algo ou planejando futuros. É meio clichê mas não consigo viver no agora, parece. Mesmo nas ações cotidianas eu sou atravessada pela necessidade de seguir adiante. Um exemplo que me mata de vergonha é a incapacidade de guardar minhas próprias roupas na hora em que elas deveriam ser guardadas. Porque eu troquei de roupa com uma próxima ação em mente (ex: tirar a roupa do dia e colocar um pijaminha pra ir dormir) e não penso no que preciso para concluir aquilo. Só penso "tá, troquei de roupa então agora acabou já". E as roupas vão se acumulando pelo meu quarto até que a situação fique crítica e resolvo arrumar tudo (atividade nomeada na minha lista de tarefas como "limpar superfícies".).
Quando eu era criança, nunca conseguia atravessar aqueles brinquedos de barra de macacos (acho que ainda hoje não consigo). Não conseguia soltar uma das barras e me impulsionar para frente. Estava imóvel. Sem conseguir me soltar. Presa pelo que já foi.
Parece que vivo em dois tempos, comprimida entre o que já foi (que na minha mente é muito melhor do que o que realmente foi, é claro) e o que vai vir (marcado pelo grande choque entre o futuro sonhado e o futuro que se aproxima a passos largos, tão diferente). Não sobra espaço (ou tempo!) para a Laura de agora, a Laura que escreve essas palavras depois de semanas sem parar para ouvir (ou ler) os próprios pensamentos.
Hoje ouvi um áudio da minha amiga Paula respondendo meus podcasts e ela me falou sobre a importância de cultivar coisas boas na minha rotina. Que nem tudo vai ser bom o tempo todo, mas é importante deixar espaço pra felicidade entre os dias. Não dá pra ser contente só nas férias.
A Marina Lima já deu a letra de que os momentos felizes não estão escondidos nem no passado e nem no futuro, mas é difícil se lembrar disso na correria do dia a dia. Fico sempre querendo escapar para outro tempo. Mas a verdade é que, tirando o frio, o governo, a falta de horários do meu ônibus, minha carteira que ainda não recuperei e alguns outros fatores, a vida vem sendo boa.
Meus professores são bons e meus colegas são queridos. Agora em junho voltei a ler e a correr depois de ter passado meses sem. Alguns dias faz sol. Quarta passada eu caminhei com meu irmão e tomamos café na padaria juntos, só nós dois, como há muito não fazíamos. Voltei a conviver com parentes que tinha me afastado muito com o começo da pandemia (agora vejo meu irmão mais novo toda semana também!). Entrei nos grupos de basquete e futsal do meu curso e me divirto muito quando eu jogo. Frequentemente encontro amigos e conhecidos queridos, seja ao acaso seja combinado (tenho almoço semanal com um amigo e caminhada com outro).
A rotina de agora é muito diferente da que eu tive nesse tempo sem aulas presenciais. É cansativa e exige tempo e uma dedicação que ainda não tenho. Não é sobre fingir que está tudo ótimo quando não está, mas conseguir ver as coisas boas pelo caminho. Não só ver quanto, na medida do possível, abrir espaço pra elas.
Nas últimas semanas criei o hábito de compartilhar minha lista de Tarefas do Dia com meu amigo Pedro, para me ajudar a seguir os planos (eu queria uma tradução de “hold accountable” mas ainda não achei). Hoje falei pra ele que ia escrever, não como um item pra marcar como feito na lista, mas como atividade que eu gosto. E foi o que eu fiz. Parei um tempinho para ver o que saía e me diverti. Sem me importar tanto com manter a qualidade de textos da Laura do passado ou com o número de leitores da Laura do futuro, apenas deixar a Laura do presente aproveitar um pouco.
Abração e boa semana,
Laura