impossível levar um barco sem temporais
Bom dia, pessoal,
Em julho do ano passado eu postei um reels no meu instagram só com fotos de momentos felizes daquele mês, junto com um textão dizendo que os meses anteriores tinham sido difíceis, que eu não estava vendo propósito ou prazer nas coisas mas que, finalmente, tinha voltado a me sentir bem, a ficar genuinamente contente com as coisas ao meu redor.
Em abril do ano passado eu voltei a morar em Florianópolis depois de ter passado quase um ano com a minha avó no Rio de Janeiro, comecei presencialmente a faculdade nova, depois de 3 semestres de EAD, e passei por um término de namoro. Era muita mudança acontecendo e eu não conseguia me sentir em casa em nenhum lugar. Continuava fazendo as coisas que eu sabia que gostava de fazer, mas mais no automático, pra manter as engrenagens girando. As malas ficaram um tempão no chão do meu quarto até serem desfeitas, achava que era só preguiça, mas, olhando agora de longe, também teve um quê de não querer a resignação.
Agora é julho de volta e eu só consigo pensar em como as coisas vão bem desde então. Dizendo assim, parece que esse ano foi só maravilhas. Não é isso que eu quero dizer, talvez seja melhor reescrever. Não é que atualmente as coisas vão bem, sou eu que vou bem entre elas.
Essa semana, numa mesa de bar, minha amiga Luísa disse que falar comigo fazia ela se sentir uma pessoa. Semana passada, depois de ler meus textos antigos do medium, meu amigo Arthur comentou que eu de fato sentia. Acho que a questão é essa: nestes últimos doze meses, eu senti muitas coisas, boas e ruins, mas, sobretudo, me senti viva.
Tiveram coisas maravilhosas, como abraçar um dos meus ídolos, fazer minha primeira prova de corrida em um lugar lindíssimo, pular carnaval pra valer pela primeira vez na vida, resolver pendências de saúde. Coisas cotidianas como almoçar com amigos no RU, tomar um cafézinho depois da aula, e jogar basquete coloriram minha semana. Conheci muita gente massa que nem lembro mais como era a vida antes delas. Mas também tiveram três fins de semestre e com eles as crises de desespero de “por que que eu escolhi esse curso?” e “definitivamente não vou dar conta” (spoiler: 95% das vezes, dei conta), crises de choro, corações machucados, noites de angústia, conflitos e tudo isso que constitui a experiência humana.
Há alguns meses eu tirei os (cinco) sisos. Foi a única vez em que eu estive medicamente anestesiada e pensei muito “tenho que escrever sobre isso”. É uma sensação muito peculiar. O cirurgião-dentista estava lá com mil e um equipamentos contra minha gengiva e minha arcada dentária, e eu não sentia quase nada (no começo até achei que sentia, mas “não é dor, é pressão”).
Fora do contexto cirúrgico, eu acho que sentir dor é um risco que está sempre à espreita. Não tem como nos proteger dela sem se privar também de sentimentos bons (a palavra anestesia vem do grego e significa "ausência de sensações"). É importante se permitir sentir as coisas, se lembrar que é uma pessoa.
A essa altura do campeonato, já sabemos: não há previsão de quando virá a próxima cartinha. Queria que ela fosse regular que nem foi no comecinho, mas não consigo me organizar (nem as ideias nem o tempo) para isso.
Espero que estejam todos bem!
Com carinho,
Laura