folhas de sonho no jardim do solar
Bom dia pessoal, Esses dias falei para um amigo "se essa semana eu vir pedir ideia de tema pra cartinha, me lembra de escrever sobre as plantinhas". Então aqui vamos nós. Como boa criança hipponga que fui, sempre gostei muito de plantas. Me perder na copa das figueiras do colégio, escalar goiabeiras, tentar não me espetar com os limoeiros, ficar com cheiro de mar depois de subir em aroeiras, andar quadras atrás das melhores pitangueiras. Isso sem falar da diversão que era explorar um parque, um jardim ou uma horta. As lembrancinhas do meu aniversário da terceira série foram várias mudinhas. Mas, quando se tratava do cuidado, o assunto mudava. Tive algumas violetas (junto com jasmim, acho que era minha flor favorita), que acho que murcharam, e uma planta carnívora, que morreu desidratada. Lembro até hoje de suas folhinhas dentadas completamente secas. Fiquei traumatizada. Já mais velha, ficava de má vontade quando minha mãe viajava e pedia para eu vir em casa regar as plantas alguns dias. Em 2019, fui em uma feirinha de artes e encontrei algo que sonhava faz tempo: um vasinho de suculenta do Bulbassauro. Comprei. A suculenta morreu. Em 2020, fiz um transplante nele e coloquei uma suculenta nova. Morreu. Mês passado, tudo mudou. Meu pai me deu um cacto (de presente de dia da mulher, achei uma escolha interessante). Poucos dias depois, no meu aniversário, passei por uma floricultura e pensei "quer saber, já que faz uns oito anos que não ganho flores, vou comprar um buquê pra mim mesma". Não tinha nenhum que me agradasse, então decidi comprar uma suculenta. No mesmo dia, minhas amigas Elisa e Nati me deram um vasinho lindo com algumas suculentas. Poucos depois, minha amiga Mari me deu uma florzinha. Em menos de dez dias, tinha virado uma feliz proprietária de quatro plantas (que, com o resgate do bulbassauro, logo viraram cinco). Passada toda essa contextualização, o que eu queria dizer mesmo é que essa experiência vem sendo muito boa. Enquanto o mundo colapsa e nos sentimos impotentes, é quase mágico ter, ao alcance das mãos, algo que conseguimos cuidar. Talvez seja um pouco triste admitir isso, mas uma das melhores coisas do meu dia é quando levo elas para pegarem um bronze na varanda. Além de me sentir uma pessoa super responsável e zelosa (não importa o número de tarefas pendentes, quando tomo conta delas me sinto uma pessoa com a vida nos eixos), eu me lembro de cuidar de mim. Me mexo um pouco (sou desastrada demais para levar todas elas de uma vez só), respiro tranquila observando as outras plantas por alguns minutos, aproveito eu mesma para pegar um cadinho de sol na varandinha. Além disso, gosto muito de acompanhar seu progresso, compartilho com meus amigos (e até com desconhecidos no reddit). Um dia é sempre quase igual ao outro dias, mas elas não. Estão sempre mudando, seja crescendo, seja se bagunçando porque os gatos derrubaram elas no chão (isso a globo não mostra!). Manoel de Barros escreveu em um poema "[...] aprendeu que as folhas das árvores servem para nos ensinar a cair sem alardes.", mas eu desconfio que elas também podem nos ensinar a nos mantermos de pé.
"Não esqueça: beba água, pegue sol, você é basicamente uma plantinha com emoções mais complicadas
Indicações da semana:
O quadrinho pra ilustrar o post dessa semana veio dessa conta aqui. De vez em quando eu penso em abandonar o instagram, mas os artistas me prendem. O que me leva à próxima indicação:
O projeto "36 days of type", no qual os artistas devem a cada dia postar uma arte de tipografia com algum carácter (já estão na letra N, devia ter mandado já na cartinha anterior mas esqueci, mas depois tem os números também). Estou seguindo a hashtag no instagram e por isso sempre aparecem uns artistas novos no feed.
Já indiquei ele aqui, mas tô vendo agora (literalmente agora, com a tela dividida ao meio) o último vídeo do Ludoviajante, que se chama "O que fazer quando o desânimo toma conta?"
Meu amigo Rômulo tem um podcast chamado Dialética da Malandragem, onde entrevistam jovens pesquisadores das ciências humanas e sociais sobre diversos temas. Indico demais.
A música "Vai" do mineiro Jair Naves. Não consigo nem identificar o porquê, mas essa música me arrebatou de um jeito que quase me fez chorar na esteira.
Enquanto eu começava essa cartinha, minha mãe foi assistir a peça CRIOULOS. Perguntei sobre depois e ela disse que valia a indicação. Vai estar em cartaz (no youtube) de sexta à domingo que vem, às 20h.
Abri o spotify hoje e dei de cara com uma playlist deles chamada flora, acho que foi o título perfeito pra casar com esse tema. Além disso, pesquisando alguma música para usar de título da cartinha, achei uma playlist do Sesc SP que "explora as relações da música contemporânea com o universo biológico e espiritual da botânica". Ambas muito gostosinhas de ouvir.
Essa foi, definitivamente, a cartinha mais good vibes que já escrevi. Sem angústias ou anseios, apenas plantinhas. Espero que nossa semana consiga ser um pouco assim também.
Com carinho,
Laura