enche a casa de flor que eu tô voltando
Bom dia, pessoal,
No colégio, quando eu não sabia sobre o que escrever, começava o texto falando sobre isso e assim, quando a ideia surgia, já estava uns dois parágrafos adiantada. Já fiz isso em várias cartinhas também, e essa não será diferente.
Quanto mais tempo eu passo sem escrever, mais difícil é voltar. Não tanto pela hábito em si, mas pela quantidade maior de coisas vividas e pensamentos pensados. Ter que escolher o que vai pro papel (ou, nesse caso, pro meu bloco de notas num arquivo .txt ainda sem título) implica também em escolher o que se deixa de lado (quem me conhece sabe que eu sou péssima nisso, em todos os âmbitos da vida).
No começo de dezembro, minha amiga Mari tweetou "esperando ansiosamente a cartinha de final de ano da Laura, falando da apresentação de samba dela, do final de semestre, do natal, da família, da vitória do Lula, da animação por causa da copa e tudo mais". E eu queria ter escrito disso tudo, mas não sabia por onde começar. Parecia errado falar só de x coisa e deixar y de lado, ainda que só até a próxima cartinha. Tudo era importante demais para ficar de fora, mas nada era importante o suficiente para ser escrito primeiro. Não soube o que fazer e, como saída mais fácil, parei de escrever, como se as coisas fossem ser esquecidas e eventualmente fosse acontecer surpreendente que me fizesse pensar "tá, é sobre isso que eu vou escrever agora". Mas a vida foi vindo cheia de acontecimentos e as indecisões só aumentaram (por isso agora estou escrevendo essa cartinha sobre não escrever cartinhas, em vez de contar qualquer uma das coisas legais que vivi nesse tempo que estive off).
Boa parte da vida eu tenho a impressão de que não estou onde deveria estar, tanto em termos de escolhas maiores e comparativos temporais, quanto no cotidiano mesmo. Passar tempo demais na casa da minha mãe em vez de ir pra casa do meu pai. Passar tempo demais na casa do meu pai em vez de ir pra casa da minha mãe. Ficar em casa por pura preguiça (preguiça mesmo, não cansaço) e se arrepender depois por não ter feito nada. Talvez por isso eu tenha desistido da minha capacidade de fazer escolhas.
Mas nos últimos tempos, fui (com muitas sessões de terapia) mudando isso. No fim de 2022, não senti a angústia anual de "nossa, tinha tanta coisa que eu queria fazer e não fiz". Obviamente não porque tenha feito tudo que coloquei de meta (não tirei o certificado de francês nem terminei O Retorno do Rei, porém consegui correr 5 km sem parar), mas porque consegui enxergar com mais carinho as coisas que havia de fato feito e também encarar o que deixei de fazer como possibilidades para tentar melhor em 2023, não como derrotas ou algo do tipo. Teve fases em que eu estava muito feliz com meu entorno, outras em que não via sentido em nada. Teve meus últimos meses morando no Rio, o início presencial na engenharia, término de namoro, a possibilidade de ver ao vivo muitos de meus ídolos, descobrir que eu ainda sei andar de bicicleta. Também teve várias coisas que, olhadas individualmente podem parecer pequenas, mas, ao se fazerem cotidianas, marcaram forte meu ano. Os cafés e os almoços com meus amigos, as conversas com meus colegas antes e depois (e as vezes durante) da aula, as voltas na quadra (caminhando, correndo ou pedalando), os abraços dos meus irmãos quando calhamos de estar na mesma casa, as risadas em torno da mesa com meus pais. Então, nesse final de ano, pensei muito nisso. Não fiz tudo o que eu queria, mas fiz o suficiente. E foi bom demais.
Saí pra fazer o almoço (arroz velho misturado na frigideira com uns legumes e ervilha congelada, meu prato pra quando não tenho ânimo de fazer um prato) e agora perdi o fio da meada. Acho que queria dizer que nunca vou dar conta de escrever sobre todas as coisas que acontecem comigo/para mim, mas isso não pode me impedir de começar a escrever, pelo contrário. Saber que, assim como na vida, não tem escolha certa. Me dedicar a escrever o que dou conta, mesmo que tanto fique de fora, já é muito.
Declaro que as cartinhas vão voltar a ser semanais e a ter a seção de indicações (só essa que não).
Beijão,
Laura