ela me conta, sem certeza, tudo o que viveu
Bom dia, pessoal!
Vivo com a constante sensação de não ter mais sobre o que escrever. Não porque não tenha realmente, mas porque escolher o que escrever é também escolher o que deixar de fora, e nunca fui boa com cortes.
Tem aquela expressão tosca, de “não postei porque estava ocupado vivendo”, e acho que esse ano foi um pouco disso, mas trocando “postei” por “escrevi”. É como quando você caia na lona da cama elástica mas outras crianças continuavam pulando, o que te fazia ainda ter altos e baixos, mas sem ter tempo para se reerguer e dar um salto forte com as próprias pernas.
O ano anterior foi um ano tranquilo que me permitiu mergulhar para dentro, olhar para as coisas com atenção e organizá-las no peito e na cabeça. Aproveitar a calmaria do mar para remendar o barco e avaliar as rotas. Mas esse último ano (e com isso entenda “os doze meses entre maio de 2021 e maio de 2022”) não. A vida foi intensa.
Comprei um vôo só de ida. Fui pra casa de uma amiga, que tinha webconhecido nos cinco meses anteriores (beijo, Laura!) e depois na da minha vó. Colei o coração com cola de maresia. Amizades foram desfeitas. Conheci gente. Perdi meu avô (o privilégio de ter tido todos eles até os 22!). Nadei muito no mar. Tive a sorte de um amor tranquilo. Meu irmão mais novo completou sua primeira volta em torno do sol. Conheci mais gente. Felicidade na cidade que eu plantei pra mim. Passei um mês de volta em casa cuidando do meu irmão pros meus pais viajarem. Voltei pra casa da minha vó ciente do que tentava evitar (eventualmente teria que voltar para minha vida normal). Nossa famosa garota nem sabia a que ponto a cidade turvaria. Manter uma vida sabendo que ela está prestes a acabar pode ser uma tarefa complicada e cansativa (ainda que a vida literalmente seja isto). Gramsci não mentiu quando disse que é no interregno que o bicho pega.
As aulas presenciais voltaram e com isso eu voltei também pro meu pedacinho de terra perdido no mar. Pegar ônibus diariamente. Esbarrar em conhecidos e combinar de ver amigos. Reclamar da fila do RU. Ter que passar o dia inteiro de sapatos. De repente a vida que parou em setembro de 2019 (quando tranquei a faculdade de direito) estava de volta. Tudo voltando ao normal ao mesmo tempo que parece que nada ficou no lugar.
Depois desse turbilhão, posso olhar para trás com calma e organizar retroativamente todos os sentimentos, experiências e ideias do último ano. Pegar os quadros e fazer a curadoria de uma belíssima exposição na parede da memória. Ir aos pouquinhos voltando a escrever e a compartilhar as coisas. Devagar e sempre.
Com carinho e saudades,
Laura
p.s. não estou com cabeça para indicar nada essa semana, mas aceito indicações de vocês!