deixa de conversa, pode relaxar
Bom dia, pessoal,
A cartinha de hoje é sobre parar. Não só parar de trabalhar e ir se divertir um pouco, como falei semana retrasada. Agora estamos falando de parar parar mesmo.
Uma característica minha é ser uma pessoa inquieta. Estou sempre procurando algo pra fazer, uma sarna pra me coçar, uma atividade extra pra me matricular, um compromisso pra marcar na agenda. Como se cada instante devesse ser destinado a alguma coisa, como aquele pessoal que organiza o calendário como se fosse Tetris, preenchendo as lacunas com pecinhas coloridas. A descrição do primeiro texto que eu postei é literalmente “eu não sei lidar com o tempo. ou melhor, não sei lidar com o excesso dele.”
Em tempos pré-pandêmicos, dormia semanalmente em quatro casas diferentes, sempre migrando de uma pra outra tendo como critério principal a presença de pessoas. “Hmmm, já que segunda a mãe trabalha o dia todo, vou direto pro meu pai depois da aula”. Evitava ao máximo (ainda que inconscientemente) ter um tempo só pra mim. Não precisava pensar o que eu queria fazer com meu barquinho, era só ir seguindo a maré. Recentemente só que comecei a pensar mais nas minhas decisões e pensar “tá, será que é isso que eu quero mesmo?” antes de só ir fazendo as coisas pra se ocupar. Mas ainda é algo em andamento.
Quando eu falo, não importa o tema ou a ocasião, me embolo toda. Vou emendando uma coisa na outra, normalmente até sobrepondo as ideias, e não respiro. Várias vezes acabei de apresentar um trabalho na metade do tempo estipulado e, só depois, quando estou nas considerações finais, percebo que tem muita coisa que eu sabia e esqueci de falar, porque não deu tempo de lembrar.
Minha amiga Pietra escreveu em um texto o seguinte “ lembrar que, se em três míseros pontinhos cabe tanto, deve caber um tanto mais dentro de mim quando também me permito o espaço das pausas.”. Acho que ela foi certeira nisso. Acho também que tenho medo do que pode emergir dessas pausas. Falando com a minha psicóloga sobre isso tudo, percebemos que eu ajo de uma maneira quase paradoxal: com medo de falar algo que não devia, eu não paro de falar. Preencho o tempo com o que tá na ponta da língua, para que a mente não tenha tempo de vagar para muito longe.
Quando eu era criança, tive uma fase de apreciadora de música instrumental (originada pela minha fase tecladista), conhecia vários compositores e gostava de ver concertos. Pouco depois, passou a fase e parei de ouvir. No máximo como fundo enquanto leio ou algo assim, nunca como atividade principal. Falei algumas vezes com um amigo sobre essa incapacidade de apreciar música instrumental e ele me disse que se eu não tava acostumada a lidar com uma dose mais baixa de estímulo, como ouvir só música sem fazer outra coisa junto, era difícil mesmo, mas que não passava de uma questão de hábito e que, se eu quisesse, conseguia virar alguém que gosta de música instrumental (e, prosseguindo o assunto, também que eu conseguiria meditar). Pedro, se você estiver lendo isso, obrigada por acreditar na minha capacidade de desacelerar, mesmo que eu mesma não acredite muito.
Ainda falando em música, esses dias tava conversando com meu primeiro namorado e pedi indicações musicais. Ele colocou algumas músicas na minha playlist. A primeira foi logo essa aqui. Não sei se foi uma indicação ao acaso ou pra dar esse recado mesmo, mas, quando chegou na parte que ele canta “Ela não consegue relaxar”, dei um pulo e pensei “meu deus, sou eu todinha”. Mas não é necessário passar muito tempo comigo para conhecer essa inquietude, ela é tão intrínseca que é impossível não notar.
Até num segundo encontro já fui desmascarada: ouvi que eu usava a garrafinha d’água como defesa e que isso tinha ficado evidente quando eu bebi um gole, fechei, e literalmente segundos depois fui atrás dela pra beber mais um gole. Assim como minha amiga Pietra e meu amigo Pedro, ele estava certíssimo. Quando não sei o que fazer mas sinto que preciso fazer algo, recorro a duas atividades. Ou mexo no cabelo, desembaraçando (e perdendo uma quantidade imensurável de fios) ou fazendo trança (que se desmancha minutos depois, me dando a possibilidade de refazê-la e me ocupar nessa atividade pelo tempo necessário). Ou, como foi constatado, bebo água. Em uma reunião entediante, cheguei a fazer a conta, foram 17,5 mL/min (ou 1,05 L/h, como meu amigo Olavo converteu para mim). Durante a terapia, pra não ter que lidar com o silêncio quando ele se instaura, sempre recorro à garrafinha (ignorando inclusive o fato dela já estar vazia).
Essa semana não tem conclusão motivacional nem nada do gênero. Estava falando com uma amiga enquanto enrolava para fazer a cartinha e ela disse “faz sobre isso”. Então, converti os pensamentos dos áudios para essa cartinha (para alguém que prefere tanto usar a escrita como forma de se expressar, eu mando uma quantidade absurda de áudios) e tchum, cá estamos.
Poema que o Top, amigo da minha mãe, me mostrou quando eu tinha uns quinze/dezesseis anos e eu prontamente copiei pro meu caderninho de poemas. Eu amo a última estrofe. "Todos temos razões / para andar. / Eu ando / pra manter as coisas inteiras."
Indicações da Semana
A música Got To Move da banda Cake, que tem tudo a ver com o tema de hoje. Das bandas gringas atuais, é a minha favorita. E essa música é do meu cd favorito deles (que, por uma infeliz coincidência, é o único que não está no spotify).
Esse texto curtinho que começa com "Rubem Fonseca teria dito uma vez que, para ser escritor, é preciso querer ser escritor todos os dias" e fala sobre essa questão de identidade de um jeito muito sagaz.
O clipe de Alcohol do Jorge Ben Jor que é animadíssimo e me deixou muito feliz saber da existência.
Esse vídeo em que eles falam da covid como se fosse um documentário da Petra Costa. É da primeira temporada da quarentena mas vi pela primeira vez essa semana só. Ri alto.
Esse vídeo que mostra um modelo do Notion (ferramenta querida dos blogueiros de organização e #produtividade) para estudantes. Normalmente uso uma aplicativo de lista de tarefas + o de calendário. Mas achei esse modelo muito massa e vou tentar usar.
O CD da Live de São João do Gil. Ele fez ano passado no aniversário dele mas agora saiu no spotify também. Estou ouvindo desde primeiro de junho.
O insta da minha amiga Isabel. Ela faz desenhos fantásticos, indico demais (e ela aceita encomendas por preços ótimos, ano passado encomendei um retrato pros meus pais e eles amaram).
Esse post que traz uma lista de maneiras concretas para se ter uma rotina mais tranquila. Vale a pena dar uma lida para se inspirar. mesmo que não queira/consiga seguir tudo.
Pra encerrar, a playlist da semana: música instrumental brasileira contemporânea ((eu não sou patrocinada pelo spotify, eu juro))
Se cuidem!
Com carinho,
Laura