a gente quer inteiro e não pela metade
Bom dia pessoal,
Semana passada fui num atendimento tirar dúvidas porque, não importava quantas vezes eu enviava no moodle a atividade, não conseguia tirar 10. Quando falei que tinha tirado no máximo 9,38 (não uma, mas duas vezes), acho que a prof ficou surpresa. Me disse que tava uma nota ótima e comentou que eu era muito perfeccionista. Acho que foi uma das primeiras vezes que me falaram isso.
Fiquei intrigada e fui falar com minha amiga Laura, que falou a opinião correta: eu sou o oposto de perfeccionista. Eu concordo com isso por me considerar uma pessoa desleixada, mas ela falou de forma elogiativa, que eu não tenho medo de tentar as coisas, sem a preocupação com o nível de excelência (o que é ótimo!, ela fez questão de ressaltar). Vários amigos (amigas, principalmente) têm medo de se candidatar para vaga de emprego, por não achar que cumpre satisfatoriamente. Eu me inscrevo pra tudo que tenho vontade, não por me achar a boazona, mas justamente pelo contrário, sei que o que eu acho pouco importa, quem vai decidir é o outro. Faço iniciação científica hoje por causa disso. Me inscrevi antes das aulas da primeira fase começarem pensando “ah, vai que…” e deu bom (várias vezes não dá, mas faz parte).
Tem uma frase que eu li ao acaso uma vez na internet que é "anything worth doing is worth doing poorly", algo como “tudo que vale a pena ser feito, também vale a pena ser feito porcamente”. A Thais Godinho, minha musa da organização, diz isso de um jeito mais bonito: “feito é melhor que o perfeito não feito”.
Eu sempre fui muito assim, de pegar várias coisas para fazer sem me dedicar efetivamente em nenhuma delas. Nos meus quase três semestres de direito, participei de uns três ou quatro grupos de estudos. Gostava muito de ir nos encontros (um beijo pros participantes que me leem!) mas em nenhum deles li os textos da semana. O meu pensamento era/é “ah, se eu fizer uma coisa só, sei que não vou me dedicar igual, então, se é pra fazer de qualquer jeito, pelo menos vou fazer várias coisas".
Voltando para o início, o que a prof. Fran não imaginava é que eu estava batalhando persistentemente pelos meus 0,62 pontos a mais na atividade de física não por dedicação e amor a matéria, mas como forma de procrastinação. O que não falta para mim é matéria acumulada. Tenho fugido das aulas de cálculo como o diabo foge da cruz, ou alguma versão não religiosa dessa expressão. É muito fácil dizer “não vou estudar cálculo agora porque tenho o negócio de física pra fazer ainda” e ficar inúmeras vezes tentando estimar os valores de pontos num gráfico (escala logarítmica é muito complicadinha!) em vez de enfrentar uma matéria da qual não entendo nada.
Ricardo Reis diz “para ser grande, sê inteiro” (o que é curioso, vindo de um heterônimo) e depois termina com “põe quanto és // no mínimo que fazes. // assim em cada lago a lua toda // brilha, porque alta vive”. É exatamente o oposto do que eu faço. Não me entrego por inteira pra nenhuma atividade. Um pedacinho espalhado em cada coisa. As nossas cartinhas são sem dúvida o projeto que mais ponho empenho, energia e carinho, mas isso não me impede de estar escrevendo terça à noite a cartinha que era pra ter sido de domingo.
Falei com minha amiga-xará também sobre o tema da cartinha da semana e ela me perguntou se já não tinha tido cartinha com esse tema. Acabou que ela foi uma mistura bagunçadinha da sobre não parar quieta e da sobre ter medo de mostrar pro mundo o que se faz. Não cheguei a uma conclusão ainda sobre ser melhor fazer várias coisas meio mais ou menos ou se dedicar pra valer em algo. Mas sei que o não tentar algo não pode ser uma escolha pautada pelo medo.
Colagem de Gustavo Gontijo
(entrei no insta dele pra ver se tinha alguma colagem massa pra ilustrar a cartinha e essa tinha sido a última postada, achei sinal)
Indicações da semana:
Essa thread do twitter lembrando momentos icônicos das olimpíadas do Rio. Da série “ser brasileiro às vezes é bom demais”.
Esse vídeo curtinho (em inglês) da Vox sobre a estética psicodélica das artes dos anos 60
O texto novo da minha amiga Pietra, “percalços percursos desejos”, que eu sou incapaz de definir sobre o que é, mas é literalmente um minuto de leitura, então vão lá ler.
O texto novo do meu amigo Marcelo, "Noites sem luz. Dias sem água.", falando da vida no morro e os efeitos do aquecimento global em áreas densamente povoadas
A série de vídeos “O que tem na geladeira? da minha musa gastronômica Rita Lobo. Em cada episódio, ela indica umas cinco receitas (normalmente simples) pra fazer com o vegetal da vez. Já salvou meu almoço inúmeras vezes.
Apareceram pra mim essa semana duas reportagens que achei interessante e que tem muita relação entre si. Uma falando sobre como os navios afundados da 2ª Guerra podem ser um perigo para o nosso litoral e outra falando sobre como as garrafas dentro dos navios afundados pode ajudar na fabricação de bebidas atualmente (a fã de álcool e bioquímica que há em mim deu pulinhos lendo)
Esse joguinho (em inglês) em que você tem que gastar toda a fortuna do Jeff Bezos (que peguei das indicações semanais do Manual do Usuário, um site muito massa sobre tecnologia e afins).
O joguinho de olimpíadas do google, que ainda não zerei mas achei a coisa mais fofa do mundo.
O artigo da wikipedia sobre Neve no Brasil. As fotos são incríveis.
Esse vacinômetro incrível pra ficar fuçando os dados de vacinação pelo Brasil, indicação da minha amiga Laura
Boa semana e se cuidem,
Abração,
Laura.